Ele abre com “Imunização Racional”, em que canta a “beleza que é sentir a natureza/ ter certeza pra onde vai e de onde vem/ (…)que beleza é saber seu nome/ sua origem, seu passado e seu futuro”. O ritmo é quase um reggae, ponteado por um sinuoso baixo funky, entrecortado por uma guitarra wah-wah tímida, flautas e excelentes backing vocals, puxados pelo próprio Tim.
Em “O Grão Mestre Varonil”, ele saúda, a capella, Manoel Jacintho Coelho, divulgador da seita e tido como “o maior homem do mundo” pois “semeou o conhecimento”. Seguida da densa e dramática “Bom Senso”, que mostra todo o instrumental assustador que Tim arranja. Deixa a banda comer o suingue solto e brada o vozeirão, falando: “Leia o livro Universo em desencanto. Não perca tempo”.
Antes da próxima música, ele canta sozinho, um trecho de “Energia Racional”, que volta inteira no próximo disco. “Leia o livro Universo em Desencanto” (sim, o disco é obcecado pelo tema), Tim guarda o funk no armário e solta todo o soul que sua cachola consegue ferver. Barry White e Marvin Gaye nos anos 70, mordam-se de inveja! Em “Leia o Livro…”, Tim desliza com graça, com seu gogó de tenor que é justamente o meio-termo entre o grave de White e o agudo de Gaye. Cordas e metais dão um veludo especial a este que é um dos melhores momentos da carreira de Tim Maia.
Em “Contacto com o Mundo Racional”, ele volta a nos surpreender, seja no instrumental (umblues com violões acústicos soltando acordes leves e solos discretos), como no vocal (em que afina seu gogó e capricha um falsete de arrepiar o mais frio dos brancos). Em “Universo em Desencanto”, ele tenta, em vão, explicar toda a teoria do livro, descrevendo as eras da criação, de onde viemos, pra onde vamos. Musicalmente, nos convida para um samba colorido de funk, mostrando que seu conceito de black music abrange as Américas do Norte, Central e do Sul. “Leia o livro/ Vai saber/ O que realmente/ É viver”, canta com tanta empolgação que, como um amigo meu diz, dá vontade de comprar e ler o tal livro, “A lição foi mal passada/ Quem aprendeu não sabe nada/ (…) Disseram que sabiam das coisas, mas no entanto não sabem coisa nenhuma/ Pura Inconsciência/ (…) É pra já/ É coisa linda/ É pra agora/ Vamos entrar em contato/ Com os nossos irmãos puros limpos e perfeitos/ Eternos do supermundo/ Da planície Racional/ Leia o livroUniverso em desencanto“.
“You don’t know what I know” ensaia o lado inglês de sua pregação, mais uma vez sozinho, sem instrumentos: “Read the book/ The only book/ Universe in disenchantment/ And you’ll know the Truth“, para em seguida entrar num electroboogie cheio de teclados (Hammonds, sintetizadores, Glockenspiels, Moogs, clavinetes) chamado “Rational Culture”. Depois de misturar Herbie Hancock com George Clinton numa introdução cabulosa, ele começa a pregação, toda em inglês: “Vamos governar o mundo/ Você não sabe?/ Vamos colocá-lo de pé”. O suingue é irresistível e depois do refrão Tim começa a dar ordens para o ouvinte, à James Brown, sempre em inglês: “Ouçam todos/ Vamos contar a coisa mais importante que já ouviram na vida/ Nunca ouviram isso antes:/ Viemos de um supermundo, de energia racional/ E vivemos num antimundo, de energia animal/ Leia o livro, o único livro, Universo em desencanto/ E vais saber a verdade”.
Tim Maia – Racional vol. 1 (1975)
1. Imunização Racional I
2. O Grão Mestre Varonil
3. Bom Senso
4. Energia Racional
5. Leia o Livro Universo em Desencanto
6. Contato com o Mundo Racional
7. Universo em Desencanto
8. You Don’t Know What I Know
9. Rational Culture
10. Ela Partiu (Bonus)
11. Meus Inimigos (Bonus)
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