Quando fez seu primeiro show, em 13 de maio 2000, no salão comunitário de um conjunto da COHAB em Artur Alvim, na grande São Paulo, o Clube do Balanço já acelerava na contramão da história.
Mais do que isso: largava veloz e certeiro rumo ao passado logo no primeiro ano de um século que sempre foi sinônimo de futuro.
Marco Mattoli, Edu Salmaso, Gringo Pirrongelli, Tereza Gama, Marcelo Maita, Fred Prince, Tiquinho e Reginaldo "16" e os DJs Claudio Costa e Renato Bergamo resolveram se juntar pra fazer o show de uma banda "que só tocasse samba rock, que nem nos bailes dos anos 70".
Uma paixão comum entre eles, mas extremamente incomum no meio musical — o estilo passou anos relegados ao segundo plano da MPB sobrevivendo entocado nos bailes da periferia.
Em seguida, pela contramão mais uma vez, resolveram levar este "baile" para a Vila Madalena, iniciando a "onda" de samba rock que nos últimos anos tomou conta de todas as outras "Vilas Madalenas" do Brasil, da Cidade Baixa em Porto Alegre à Santa Teresa no Rio.
E pela contramão seguiu nos últimos anos, fazendo arrastar as sandálias em salões do mundo todo, em incontáveis apresentações ao vivo e recentemente numa longa e bem sucedida turnê pelos festivais da Europa, Austrália, Nova Zelândia e Cingapura.
Ouvindo Pela Contramão, o terceiro álbum da banda, você vai entender como a banda de baile nascida na COHAB transformou-se num must do dancefloor jazz internacional. Como as versões de grandes canções do gênero foram dando espaço pouco a pouco a um trabalho cada vez mais autoral e inventivo.
Pela Contramão expande as fronteiras do gênero que consagrou a banda, deixando o samba rock balançar cada vez pro lado do jazz, do soul e do samba de raiz.
Marco Mattoli sobe de categoria e se consagra como letrista e compositor de peso, além um cantor cada vez mais seguro e empolgante, tendo seu talento afiado por centenas e centenas de shows.
Edu Salmaso, Gringo Pirrongelli, Tereza Gama, Marcelo Maita, Fred Prince, Tiquinho e Reginaldo "16" se apresentam também como compositores e instrumentistas de inquestionável qualidade sejam no samba de raiz como em E como o Vento foi embora e Samba Quebrado; no soul de Galaxy Dourado; no samba jazz em Morando no Sapato, Amanhã e Seu Alberto e até na baianidade de Fazendo Nada.
Tudo isso sem nunca esquecer da paixão pelo samba rock com os clássicos instantâneos Sensacional Brenda Ligia, Dentro dos olhos dela, Pela Contramão e Preta Rara.
O álbum começa pela instrumental Morando no Sapato onde a banda evoca os temas dançantes de D'Angelo, Ed Lincoln, Henry Mancini misturada com malandragem pop de Wilson das Neves e até uma pitada de surf music.
Em seguida vem a deliciosamente pop Sensacional Brenda Ligia, canção que é a cara do Clube: uma descontraída ode a uma linda gata negra com metais em brasa e sessão rítmica pulsante.
Mas é em E como o vento foi embora que as surpresas começam a aparecer. Essa parceria de Mattoli e Tereza Gama não faria feio ao lado da obra de Paulinho da Viola, João Nogueira, Paulo César Pinheiro ou Nei Lopes. Um samba de raiz de letra e melodia primorosos.
Já Pela contramão, é um samba rock "encrencado" como diz Mattoli, e faz parte do esforço do Clube para ampliar as possibilidades do gênero misturando a ele influência do sambão de Jair Rodrigues e da cadência pouco ortodoxa de Orlandivo.
Como não podia deixar de ser, a tradicional parceria do guitarreiro Luis Vagner e Mattoli dessa vez produziu mais um clássico: Preta Rara - uma linda canção de amor pra dançar ou uma linda canção dançante pra amar, tanto faz. Herdeira de Branca di Neve e do próprio trabalho de Vagner.
Tocha Botafogo é um hit de baile que vai bagunçar os salões com o que no Rio seria chamado de um samba funk, mas que para conhecedores de Helio Matheus e Raul de Souza, reflete o samba rock tingido do suingue setentista do Funk Jazz norte americano.
Na próxima faixa a soul music brasileira apresenta-se pela primeira vez na obra do Clube. Galaxy Dourado abertamente homenageia Hyldon sem deixar de dar uma carona ao soul de Tim Maia e Robson Jorge
Outra das grandes revelações do disco é o Amanhã, um doce e gingado tema instrumental de Marcelo Maita, uma bossa jazz que lembra tanto João Donato quanto Marcos Valle. Trilha para muitos amanhãs felizes e sábados ensolarados.
Em Dentro dos Olhos dela Mattoli solta a voz numa das melhores interpretações do disco, talvez porque seja uma canção com sua clara assinatura de composição.
Antes que o disco acabe o Clube pára para uma meditação budista-nagô com a suave Fazendo nada inspirada nos sentimentos budistas do compositor Gringo Pirrongelli, que de nada sofrem com a influência de João Donato e Nana Caymmi.
Em seguida um pouco de drama, pois fazer samba não é contar piada: Samba quebrado traz Tereza Gama soltando seu vozeirão sobre uma letra intrincada de Rodrigo Leão em um estilo que fica entre o samba canção e o balanço de Branca di Neve.
O já tradicional fechamento instrumental do álbum vem com Seu Alberto, um boogie woogie criado em homenagem a Herb Alpert and The Tijuana Brass.
O tema, composto por Gringo Pirrongelli, é uma homenagem a Dona Inês e Seu Omar, seus pais, que exímios dançarinos que eram levavam o baixista ainda menino aos bailes onde conheceu Billy May, Benny Goodman, Duke Ellington, Barney Kessel e muitos outros.
O Clube do Balanço tirou o samba rock do gueto.
Como os grandes filmes de gênero, como O Poderoso Chefão, que são capazes de ultrapassar sua condição estilística, Pela Contramão abre os braços pro balanço e abraça muito mais do que apenas o samba rock.
P.S. Você pode escutar algumas músicas na íntegra no Myspace do Clube Do Balanço: http://www.myspace.com/clubedobalanco
Comentários
O Arquivo sente-se orgulhoso de fazer parte da historia do Sambarock e ainda mais com o prestigio de artistas do nível de vocês.
Desejo muito sucesso ao Clube e a todos em suas carreiras individuais.
Obs: Acredito que como eu vários amigos ficaram com gostinho de quero mais, que venha logo o disco para o deleite dos amantes de boa musica.
Muita swingueira neste trabalho do Clube.
Vlw
Digno do Grupo.