Nessa 1ª parte, Mattoli conta como foi seu início na música, e fala sobre os Guanabaras e Balanço Bom É Coisa Rara:
Arquivo - Mattoli, Quando você começou a se envolver com música ?
Mattoli - Comecei com 14, 15 anos, com minha primeira banda de rock, chamada Basculantes, e nossa influência era The Clash, Sex Pistols e The Specials, que eu curto muito até hoje.
Eu acho muito legal essa fase do rock n’ roll. O punk rock voltou naquela coisa simples que é fazer rock n`roll.
O rock n’ roll veio com uma história de ter os instrumentos baratos.
Guitarra, baixo e bateria na época eram baratos.
Os caras se juntavam numa garagem, faziam 3 acordes e tiravam um puta som, e isso é o barato do rock n`roll.
É uma música juvenil, simples e de fácil expressão, você pode se expressar com poucos recursos.
Isso se perdeu durante os anos 60, com o rock ficando quase sinfônico.
Até que no final dos anos 70 nasceu o punk rock. E eu, como a maioria da molecada na época, curtia pra caramba e fizemos essa banda.
Mas já nessa época eu já ouvia muita música brasileira, gostava de jazz, mpb.
Eu nunca tive cabeça fechada pra música, sempre gostei de vários estilos, e já tirava muita coisa brasileira, já tirava Jorge Ben, Tim Maia.
Mas só com a minha próxima banda eu pude mostrar um trabalho mais influenciado por balanço, samba, apesar de ser um projeto super imaturo.
A banda, na verdade era uma dupla, pois a gente não conhecia músicos suficientes pra montar uma banda e então arranjamos uma bateria eletrônica, se chamava Mattoli e Ivanovic e a gente já levava Paz E Arroz.
Arquivo - E O Guanabaras... Como Pintou A Idéia?
Mattoli - O Guanabaras veio na seqüência, foi meu primeiro trabalho profissional.
Isso era mais ou menos 1988, 1989 e nós nascemos como uma banda pop, assim como todas as bandas da época.
Juntei-me com alguns amigos, chamamos dois percussionistas de escola de samba e resolvemos que queríamos fazer um negócio meio bossa nova, balanço, Jorge Ben, misturando tudo.
Naquela época era quase uma vergonha dizer que você gostava de samba, que era considerado um estilo relegado à comunidade, à periferia.
Minha turma amava música brasileira, gostava de samba e achava um absurdo não existir um grupo de jovens querendo fazer música brasileira.
Fizemos uma coisa hiper idealista e eu lembro que o Wagner, diretor da gravadora Eldorado na época que nos contratou disse:
"Eu gosto muito do trabalho de vocês, mas acho ele fora do tempo."
E hoje em dia, ele fala:
"Hoje o Guanabaras seria bom pra se lançar."
O disco é muito bom por isso, apesar dos limites técnicos, é um disco quente, interessante.
Eu lembro que o primeiro cara do pop rock, que começou a falar de misturar, de chamar a brasilidade de volta foi o Chico Science.
Isso foi em 94, 95 e a gente com o Guanabaras já fazia isso à 6 anos.
O Guanabaras era um negócio absurdo pra época. Não se encaixava no movimento de rock, nem no do pagode que começava a aparecer na época.
Arquivo - O Maior destaque dos Guanabaras foi "Correndo Ao Encontro Dela"...
Mattoli – Sim, e tem uma história interessante.
A gente tinha uma fita demo dessa música gravada e um dia eu conheci o Marquinhos Silveira, que apresentava o programa Band Brasil, que tinha também o Benê Alves e a Gleydes Xavier.
E eu disse pro Marquinhos que tinha um grupo que não era de samba, mas que tinha muito de Jorge Ben e coloquei pra ele ouvir. Na metade da música ele ligou pro Benê Alves.
Lembro da cena direitinha, ele falando:
"Benê, Benê, eu tô com um branquinho aqui, mas o cara parece o Branca Di Neve.
Ouve isso aqui, ouve isso aqui..."
E colocou um pedaço da música pro Benê escutar.
"Isso tem que entrar no disco, vamos colocar no disco.”, que era um dos volumes do Band Brasil.
Essa foi a minha primeira participação fonográfica.
Pra mim é uma honra, entrar pro mercado fonográfico através de uma coletânea de balanço, de música negra e foi surpreendente pra mim, porque eu não conhecia esse universo.
Um pouco antes disso, o Carlinhos da gravadora Kaskatas tentou contratar o Guanabaras.
E quando saiu a música "Correndo ao encontro dela" na coletânea, ele veio falar comigo querendo lançar.
Mas a Eldorado estava querendo também e na época eu achei melhor ficar na Eldorado.
Hoje eu me pergunto como seria se o Guanabaras tivesse saído pela Kaskatas, por ser mais periferia e tal...
Porque eu sempre digo, entrei nesse universo pela porta dos fundos. Não tinha aquela história da minha família curtir.
Eu nunca freqüentei bailes, eu curtia os discos.
Me juntei com uma turma que gostava das mesmas músicas e de alguma maneira a gente agradou.
Acabamos caindo nos bailes com a turma da Band e ficávamos embasbacados:
"Car....., olha isso aqui! Olha esse universo !"
De repente a gente se via, por exemplo, no Choppapo em Santo André e aquilo parecendo bacia de jabuticaba !
Eu pirei, bateu na veia, e falei: "É aqui que eu vou ficar."
O Guanabaras tem toda essa história, de ser fora do tempo.
Lembro que levamos o disco pro Jorge Ben, ele ouviu e depois deu uma entrevista dizendo que gostou pra caramba dos Guanabaras.
Muito legal...
Nesse tempo também conheci o Luiz Vagner, um pouquinho antes de gravar o disco, e nós ficamos muito amigos.
Arquivo - E porque Guanabaras Acabou ?
Mattoli – Com o passar do tempo eu tava querendo fazer um trabalho mais voltado pro samba, mas o pessoal dos Guanabaras não estava "tão brasileiro" como eu.
Então achei melhor procurar outra turma, um pessoal mais voltado pro samba.
Arquivo - E você acabou lançando o seu album solo "Balanço Bom É Coisa Rara"...
Mattoli – Isso ! Nessa época eu conheci o Edu Peixe, o Chulapa, o Tiquinho, o Fred Prince e o Gringo.
Foram os caras que eu chamei pra gravar meu disco solo e nós ficamos muito amigos.
Essa foi a semente do Clube.
Fazíamos os shows do "Balanço Bom" com um quinteto e tocamos até em Portugal.
Mas, fizemos poucos shows, pois o disco não virou.
O "Balanço Bom" é uma coisa engraçada, todo mundo gostava mas ninguém queria fazer.
Ficava naquele negócio: "Só vira essa p.... de pagode..."
Quando decidi fazer, nós pensamos:
"Vamos pegar um repertório de clássicos do samba rock e vamos fazer um baile tocado."
Só que o Edu é megalomaníaco e veio com aquele papo que não poderia ser só 5. Tinha que ter teclado, percussão, metaleira.
Como eu tinha a experiência do Guanabaras, achava que não daria certo...
(Continua)
Arquivo - Mattoli, Quando você começou a se envolver com música ?
Mattoli - Comecei com 14, 15 anos, com minha primeira banda de rock, chamada Basculantes, e nossa influência era The Clash, Sex Pistols e The Specials, que eu curto muito até hoje.
Eu acho muito legal essa fase do rock n’ roll. O punk rock voltou naquela coisa simples que é fazer rock n`roll.
O rock n’ roll veio com uma história de ter os instrumentos baratos.
Guitarra, baixo e bateria na época eram baratos.
Os caras se juntavam numa garagem, faziam 3 acordes e tiravam um puta som, e isso é o barato do rock n`roll.
É uma música juvenil, simples e de fácil expressão, você pode se expressar com poucos recursos.
Isso se perdeu durante os anos 60, com o rock ficando quase sinfônico.
Até que no final dos anos 70 nasceu o punk rock. E eu, como a maioria da molecada na época, curtia pra caramba e fizemos essa banda.
Mas já nessa época eu já ouvia muita música brasileira, gostava de jazz, mpb.
Eu nunca tive cabeça fechada pra música, sempre gostei de vários estilos, e já tirava muita coisa brasileira, já tirava Jorge Ben, Tim Maia.
Mas só com a minha próxima banda eu pude mostrar um trabalho mais influenciado por balanço, samba, apesar de ser um projeto super imaturo.
A banda, na verdade era uma dupla, pois a gente não conhecia músicos suficientes pra montar uma banda e então arranjamos uma bateria eletrônica, se chamava Mattoli e Ivanovic e a gente já levava Paz E Arroz.
Arquivo - E O Guanabaras... Como Pintou A Idéia?
Mattoli - O Guanabaras veio na seqüência, foi meu primeiro trabalho profissional.
Isso era mais ou menos 1988, 1989 e nós nascemos como uma banda pop, assim como todas as bandas da época.
Juntei-me com alguns amigos, chamamos dois percussionistas de escola de samba e resolvemos que queríamos fazer um negócio meio bossa nova, balanço, Jorge Ben, misturando tudo.
Naquela época era quase uma vergonha dizer que você gostava de samba, que era considerado um estilo relegado à comunidade, à periferia.
Minha turma amava música brasileira, gostava de samba e achava um absurdo não existir um grupo de jovens querendo fazer música brasileira.
Fizemos uma coisa hiper idealista e eu lembro que o Wagner, diretor da gravadora Eldorado na época que nos contratou disse:
"Eu gosto muito do trabalho de vocês, mas acho ele fora do tempo."
E hoje em dia, ele fala:
"Hoje o Guanabaras seria bom pra se lançar."
O disco é muito bom por isso, apesar dos limites técnicos, é um disco quente, interessante.
Eu lembro que o primeiro cara do pop rock, que começou a falar de misturar, de chamar a brasilidade de volta foi o Chico Science.
Isso foi em 94, 95 e a gente com o Guanabaras já fazia isso à 6 anos.
O Guanabaras era um negócio absurdo pra época. Não se encaixava no movimento de rock, nem no do pagode que começava a aparecer na época.
Arquivo - O Maior destaque dos Guanabaras foi "Correndo Ao Encontro Dela"...
Mattoli – Sim, e tem uma história interessante.
A gente tinha uma fita demo dessa música gravada e um dia eu conheci o Marquinhos Silveira, que apresentava o programa Band Brasil, que tinha também o Benê Alves e a Gleydes Xavier.
E eu disse pro Marquinhos que tinha um grupo que não era de samba, mas que tinha muito de Jorge Ben e coloquei pra ele ouvir. Na metade da música ele ligou pro Benê Alves.
Lembro da cena direitinha, ele falando:
"Benê, Benê, eu tô com um branquinho aqui, mas o cara parece o Branca Di Neve.
Ouve isso aqui, ouve isso aqui..."
E colocou um pedaço da música pro Benê escutar.
"Isso tem que entrar no disco, vamos colocar no disco.”, que era um dos volumes do Band Brasil.
Essa foi a minha primeira participação fonográfica.
Pra mim é uma honra, entrar pro mercado fonográfico através de uma coletânea de balanço, de música negra e foi surpreendente pra mim, porque eu não conhecia esse universo.
Um pouco antes disso, o Carlinhos da gravadora Kaskatas tentou contratar o Guanabaras.
E quando saiu a música "Correndo ao encontro dela" na coletânea, ele veio falar comigo querendo lançar.
Mas a Eldorado estava querendo também e na época eu achei melhor ficar na Eldorado.
Hoje eu me pergunto como seria se o Guanabaras tivesse saído pela Kaskatas, por ser mais periferia e tal...
Porque eu sempre digo, entrei nesse universo pela porta dos fundos. Não tinha aquela história da minha família curtir.
Eu nunca freqüentei bailes, eu curtia os discos.
Me juntei com uma turma que gostava das mesmas músicas e de alguma maneira a gente agradou.
Acabamos caindo nos bailes com a turma da Band e ficávamos embasbacados:
"Car....., olha isso aqui! Olha esse universo !"
De repente a gente se via, por exemplo, no Choppapo em Santo André e aquilo parecendo bacia de jabuticaba !
Eu pirei, bateu na veia, e falei: "É aqui que eu vou ficar."
O Guanabaras tem toda essa história, de ser fora do tempo.
Lembro que levamos o disco pro Jorge Ben, ele ouviu e depois deu uma entrevista dizendo que gostou pra caramba dos Guanabaras.
Muito legal...
Nesse tempo também conheci o Luiz Vagner, um pouquinho antes de gravar o disco, e nós ficamos muito amigos.
Arquivo - E porque Guanabaras Acabou ?
Mattoli – Com o passar do tempo eu tava querendo fazer um trabalho mais voltado pro samba, mas o pessoal dos Guanabaras não estava "tão brasileiro" como eu.
Então achei melhor procurar outra turma, um pessoal mais voltado pro samba.
Arquivo - E você acabou lançando o seu album solo "Balanço Bom É Coisa Rara"...
Mattoli – Isso ! Nessa época eu conheci o Edu Peixe, o Chulapa, o Tiquinho, o Fred Prince e o Gringo.
Foram os caras que eu chamei pra gravar meu disco solo e nós ficamos muito amigos.
Essa foi a semente do Clube.
Fazíamos os shows do "Balanço Bom" com um quinteto e tocamos até em Portugal.
Mas, fizemos poucos shows, pois o disco não virou.
O "Balanço Bom" é uma coisa engraçada, todo mundo gostava mas ninguém queria fazer.
Ficava naquele negócio: "Só vira essa p.... de pagode..."
Quando decidi fazer, nós pensamos:
"Vamos pegar um repertório de clássicos do samba rock e vamos fazer um baile tocado."
Só que o Edu é megalomaníaco e veio com aquele papo que não poderia ser só 5. Tinha que ter teclado, percussão, metaleira.
Como eu tinha a experiência do Guanabaras, achava que não daria certo...
(Continua)
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